terça-feira, 29 de novembro de 2011

Redefinindo a esfera pública

Embora a arquitetura, desde o Renascimento, tenha sido caracteriza como humanista e que as idéias que envolvam este conceito, desde o tempo de Alberti, tenham incluído uma visão orientada para o sentido social do termo, com a necessidade se servir a sociedade, por si só, a arquitetura encontra-se destituída de voz e revela-se ineficiente perante uma tragédia como o 11 de setembro.
Na realidade atual, é de caráter fundamental examinar a arquitetura refletindo sobre conceitos humanistas e heróico, social e individual. Desde o século XVIII, tem sido de sua responsabilidade relacionar-se, concretizar e reformar a sociedade; esse desejo tem sido transformado no campo da utopia e da realidade, sofrendo diversas derrotas. Acredita-se que nunca houve um momento tão propício para revisitar a questões de responsabilidades sociais referente à arquitetura; esta posição justifica-se pelo fato de que, pela primeira vez, a arquitetura surge como fenômeno da mídia e que ao longo da última década foi utilizada de modo justificável, sendo um instrumento de revitalização do interesse por instituições públicas e assim, pela primeira vez, a arquitetura tem uma projeção correspondente aos seus conteúdos.
A arquitetura caracterizou-se como “segundo plano” em muitos momentos da cultura moderna, permanecendo inserida em um estado de abstração, com a pretensão de alcançar um lugar nos debates referentes às formas culturais para valores da sociedade. Semelhantes momentos característicos em períodos de guerra e destruição: a arquitetura enquanto sinal de permanência transforma-se no sinal da transitoriedade das suas ruínas. Ao longo dessas épocas, os debates sobre a arquitetura evitaram uma visão demasiado especializada do mundo e entraram na arena pública, parecendo menos preocupada com as nuances da estética ou da tecnologia. Desde o acontecimento de 11 de setembro de 2001, os momentos de evidência do arquitetônico-cultural têm sido destorcidos pelos atos de terrorismo, que vem provocando a ruptura ou a condensação entre si. Estes atos complicam-se na medida em que o local do World Trade Center, representava para muitos os resultados desafiadores de uma luta já antiga sobre o simbólico e o funcional. Edifícios que se transformaram, durante a destruição, em ícones de um discurso a três tempos: na arquitetura, o da necessidade de uma afirmação de valores contínuos da modernidade e das suas formas: na política, o da necessidade de reconstruir perante a derrota e a ameaça; e o mais árduo, em memoriam, a necessidade de ver o local como memorial de milhares de vítimas do ataque, como local de reflexão. 
Para Anthony Vidler, um dos maiores problemas resultado do desastre do World Trade Center e que a arquitetura pode buscar soluções, é a apropriação do contexto urbano enquanto lugar central para trabalhar e viver e que sejam criadas novas iniciativas, que promovessem a colaboração entre escolas e profissionais no intuito de redefinir a esfera pública.
No novo espaço público do século XXI, novo e criador, a proposta do projeto de reconstrução do local do World Trade Center, deveria propor um local de aspirações, suficiente capaz de responder à tripla questão evocada pelo lugar: resposta heróica a uma agressão da mesma natureza da guerra; resposta arquitetônica aos edifícios destruídos; resposta urbana face às necessidades emergentes; e, sobrepondo-se a todas estas, resposta a necessidade de construção de um memorial e de memória.
Mas para isso, os arquitetos necessitam aceitar o desafio que se aproxima da dimensão de um New Deal para o domínio público da arquitetura. Tal desafio deverá ser definido nas escolas de arquitetura, e será finalidade de nosso trabalho.

Artigo de Anthony Vidler - site Vitruvius
(Por Larissa Pereira Fraga)

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