quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vivendo na rua


Todos que moram em grandes cidades já passaram por lugares com grande concentração de moradores de rua. Isso porque os moradores de rua procuram lugares com grandes aglomerações para terem mais chances de conseguirem alimentos e condições de sobrevivência.
Durante o dia, os moradores de rua arrumam uma forma de conseguirem dinheiro: bicos em obras, diaristas, flanelinhas ou mesmo pedindo a pessoas que passam nas calçadas dos grandes centros.
O morador de rua busca a aproximação com o que imagina ser um lar. Buscam a privacidade e a isolação térmica com o uso do papelão, usam materiais descartáveis como utensílios domésticos, como pote de manteiga como prato, pedaço de madeira como colher, lata de tinta como panela. Além disso, a presença de fogo é uma "elevação de status" na sociedade que formam.
Em Vitória, há algum tempo, uma moradora de rua "construiu uma casa" na calçada do Porto. Conseguiu sofá, papelão, "utensílios domésticos" e colchão. A moradora de rua fazia todas as suas necessidades naquele local, todas mesmo, até fisiológicas.
A presença daquela moradora ali acabou chamando a atenção de quem passava o que trouxe o interesse da mídia, mas quantos moradores de rua existem em Vitória? Quantos existem no ES? e Quantos existem no Brasil? O que a gente faz? O governo? Qual a interferência dessa presença constante na cidade?
São poucas pessoas que interagem com moradores de rua, que param e mostram que notam, que estão ali para saber sobre ele e o que ele precisa, como ajudar? Muitos olham e fingem que não estão vendo (eu já fiz isso), outros mostram que viram e mostram que não gostam, que se sentem coagidos...
Como a arquitetura e o urbanismo interferem na localização dessas pessoas?
Em Vitória, durante a semana a população de rua fica dispersa no Centro de Vitória, mas é possível encontrá-los na Praça Costa Pereira, na Praça Getúlio Vargas, na Escadaria do Palácio, na Cidade Alta e perto do Porto.
Durante os domingos e feriados, quando o comércio está fechado, a maioria vai para o sambão do povo ou para perto da rodoviária onde tem muitas árvores aglomeradas e ali ficam em grupo, causando medo e repúdio aos outros usuários que passam no local.
A presença dessa "população paralela" que vive de forma sub-humana, acaba por misturar o público com o privado. O que para quem tem uma casa, é impensável fazer no meio da rua, para o morador de rua é corriqueiro. Dormem, comem, bebem, tem relações sexuais, fazem coco e xixi tudo no meio da rua, tomam banho em espelhos d'água e beiras de maré...
Como relacionar o que é público e o que é privado nesse caso? Mesmo morando na rua e sendo tão público, o morador de rua busca essa relação com o aspecto citado acima, usando papelões e outros materiais em busca de privacidade.
Enfim, o morador de rua vive com criatividade, buscando o possível para se manter... e confunde as nossas idéias... o que é público e privando então?


(por Jaqueline Torquatro)

Nenhum comentário:

Postar um comentário